Até quando a guerra?

O Restaurante Barbosa — referência inegável ao compositor brasileiro Adoniran Barbosa, ainda mais pelo vagão pintado com as cores do Brasil do lado de fora — estava com a mesa posta. Churrasco e feijoada. Éramos um grupo de jornalistas visitando o kibutz de Bror Hayil, a cerca de 7km da fronteira com a Faixa de Gaza. Ofir Libstein, presidente do Conselho Regional de Sha’ar HaNegev, que congrega 13 comunidades próximas ao enclave palestino, fez um discurso apaixonado, ao som de música brasileira. Disse que, em 90% do tempo, viver em um kibutz da região é um paraíso. Em 10%, um inferno.

Esse inferno ganhou proporções dantescas na manhã de 7 de outubro de 2023. Sete meses depois de nosso encontro, Libstein tornou-se uma das 1,2 mil pessoas assassinada pelo grupo terrorista Hamas. Os extremistas capturaram 251 judeus e levaram para Gaza — 101 ainda estão no cativeiro. Em retaliação, Israel começou a bombardear o território palestino de forma impiedosa. Depois, invadiu Gaza e promoveu uma destruição massiva, uma carnificina: segundo o Ministério da Saúde local, quase 50 mil palestinos morreram.

Quando estive na fronteira, vislumbrando o norte da Faixa de Gaza, jamais imaginava que o conflito assumiria dimensões ainda mais terríveis. A discrepância entre a pobreza dos prédios no horizonte e a pujança de Israel era gritante. Imagino que, hoje, a imensa maioria desses edifícios tenha se tornado pilhas de escombros. Eu me lembro de sentir um aperto no peito ao imaginar os moradores dos kibbutzim — comunidades pequenas construídas em meio a árvores e ao sossego, onde se escuta o silêncio e os passarinhos — sendo obrigados a se esconderem em quartos seguros para salvarem suas vidas. Também senti o mesmo aperto ao ouvir os sons intermitentes dos drones israelenses e dos tiros de um estande do Exército israelense e ao imaginá-los ecoando em Gaza.

Se a vida no enclave palestino já era difícil, imagino sob bombardeios diários. Uma pesquisa divulgada pela ONU, ontem, prevê que a economia da Faixa de Gaza demorará 350 anos para retornar aos níveis pré-guerra. Também segundo a ONU, um quarto de todas as construções do território foi destruído ou severamente danificado. O que dizer da vida dos palestinos? O que falar sobre os órfãos, as viúvas, os pais obrigados a enterrar seus filhos? A mesma dor imposta pelo massacre de 7 de outubro a inocentes israelenses corrói milhares de inocentes palestinos. Os libaneses que não têm ligação com o movimento xiita Hezbollah também se tornam vítimas da vingança de Israel.

Até quando o extremismo, o fundamentalismo religioso e político, a sanha belicista e o desejo de retaliação continuarão a vigorar no Oriente Médio, cuja história é marcada por sangue e dor? Não será mais fácil forjar um futuro de paz entre israelenses e palestinos do que chorar os próximos mortos?

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