Carnaval com arte: um roteiro para conferir entre um bloquinho e outro

Para quem quiser aproveitar o tempo entre um bloquinho e outro, a sugestão é um passeio pela arte brasileira produzida logo após o fim da ditadura militar. Com obras assinadas por 200 artistas, a exposição Fullgás — artes visuais e anos 1980 no Brasil faz uma revisão crítica da produção de artistas que emergiram nas décadas de 1980 e 1990 e trouxeram para a arte temas que mobilizaram o país nos anos de redemocratização. Dividida em cinco núcleos que levam o título de músicas emblemáticas da época, a mostra faz um recorte que vai de 1978, com o fim do AI 5, até 1993, fim era Collor.

É uma geração formada na ditadura e que também produziu nos anos mais duros, mas que estava madura no momento da anistia e do retorno dos exilados. “Existia um espírito de uma geração atravessada não só pelas questões políticas, mas também por alguns fatos que percorreram esses anos, um certo espírito positivo ou mais alegre, esperançoso diante do fim da ditadura e que vincula com o processo de redemocratização. E esse time tem o ápice no momento da eleição até a queda desse sonho, com o plano Collor e a queda do presidente até o Itamar pré-real. A partir de 1994, é outro contexto geral de Brasil”, explica Amanda Tavares, que divide a curadoria com Raphael Fonseca e Tálisson Melo.

A exposição começa com o núcleo Que país é este (Legião Urbana, 1987), no qual são tratados temas como política, economia, promulgação da Constituição, organização da sociedade civil, inflação, violência e ditadura militar. Em seguida, Beat acelerado (Metrô, 1985) fala do frenesi e da euforia vivida após o fim do regime. Em Diversões eletrônicas (Arrigo Barnabé, 1980), a tecnologia comparece em obras que fazem uso de recursos novos para a época. Pássaros na garganta (Tetê Espíndola, 1982) tem a natureza como protagonista e, sobretudo, como o homem se relaciona com o meio. O tempo não para (Cazuza, 1988) mergulha em certa melancolia após o fim do que seriam os excessos de uma geração. Fullgás tem obras de artistas como Beatriz Milhazes, Leda Catunda, Marcos Chaves, Rosa Gauditano, Arthur Bispo do Rosário, Tizuka Yamasaki, Alex Vallauri, Cristina Salgado, Leonilson, Siron Franco, Leila Danziger, Fernanda Gomes, Ana Amorim e Fernando Zarif.

A exposição Feito no céu reúne obras do artista libanês Pascal Hachem feitas durante uma residência de 60 dias na Galeria Karla Osório. Em obras confeccionadas com telhas de fibrocimento, pipas, gaiolas e tecidos bordados, Hachem traz uma leitura para a tragédia da guerra que assolou seu país natal ao mesmo tempo que evoca traços da cultura brasileira.

Sobre telhas onduladas de fibrocimento, Hachem desenha pipas que se transformam em bombas, crianças que fogem de jaulas para brincar e armas que acabam no lugar de brinquedos. Sobre tecidos, bordados a partir de desenhos do artista apresentam cenas de brincadeiras marcadas por sinais de tragédia. Além dos bordados, miçangas também aparecem nas obras como fruto de uma colaboração do artista com o grupo de artesãs Encanto das Artes Recanto das Emas, mais uma tentativa de Hachem de dialogar com as tradições locais. “A arte é um meio de sobrevivência, é como um instrumento de batalha. Faço para existir, de certa maneira. Mas, ao mesmo tempo, há um detalhe importante: não temos uma história escrita, no Líbano. Tudo parou nos últimos anos. E, por meio do meu trabalho, eu tento guardar e contar os momentos que vivi”, conta o artista, que deixou o Líbano logo após a explosão do porto de Beirute, em 2023.

Feito no céu

Exposição de Pascal Hachem. Visitação até 22 de fevereiro, na Karla Osório Galeria (SMDB Conjunto 31 Lote 1B – Lago Sul). Visitação de segunda a sexta, das 9h às 18h30, e sábados, das 9h às 14h30, mediante agendamento prévio por telefone, email, DM no Instagram ou WhatsApp (61981142100)

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