O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou, em pronunciamento em rede nacional nesta quinta-feira (17/7), a ameaça tarifária de Donald Trump como “chantagem inaceitável”. Horas antes, o presidente dos Estados Unidos divulgou uma carta destinada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em que afirma que o julgamento do político do PL “deveria terminar imediatamente”.
A tensão entre Brasil e Estados Unidos começou em 9 de julho, quando Trump anunciou tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, e as justificou por uma suposta “caça às bruxas” no Brasil contra o ex- Bolsonaro, que será julgado no Supremo Tribunal Federal por golpe de Estado.
As tarifas aos produtos brasileiros foram anunciadas por Trump em uma carta endereçada ao presidente Lula. Na mensagem, o republicano criticou o STF, afirmando que a Corte “emitiu centenas de ordens secretas e ilegais de censura a plataformas de mídia social dos EUA” e alegou que as tarifas “são necessárias para corrigir os muitos anos das políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, que causam esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos”.
Ainda na quinta-feira (17/7), o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, tinha sinalizado que a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para 1º de agosto, pode ser adiada, indicando abertura do governo norte-americano para negociar com o Brasil. No entanto, tendo em vista a carta de Trump manifestando apoio a Bolsonaro novamente, a situação permanece incerta.
Nesta semana, os Estados Unidos iniciaram uma investigação interna contra práticas comerciais do Brasil que consideram supostamente “desleais”. Entre elas, o Pix. Lula defendeu o sistema de pagamentos instantâneo. Além disso, o governo federal iniciou uma campanha nas redes sociais, com o lema: “Soberania nacional”.
“A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. O Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo”, pontuou Lula.
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, se mudou para os Estados Unidos, onde faz uma mobilização para que o governo Trump pressione as autoridades brasileiras, inclusive ministros do STF. Sem citar nomes, Lula chamou de “traidores da pátria” os políticos brasileiros que apoiam os ataques ao próprio país.
Em entrevista na porta do Senado Federal, na quinta-feira (17/7), Bolsonaro afirmou que, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizasse em favor da liberação do passaporte, ele conversaria pessoalmente com Trump para tentar impedir a taxação de 50%. O ex-presidente também voltou a negar a intenção de romper com a democracia e classificou a acusação como “injusta”.
“O Brasil está ficando isolado, economicamente vamos ficar nós e a China. Por quatro, ou cinco vezes ele [Trump] citou o meu nome, ele quer restabelecer a democracia”, citou Bolsonaro.
“Caro Sr. Bolsonaro:
Tenho acompanhado o terrível tratamento que você está recebendo de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente! Não estou surpreso em vê-lo liderando nas pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte que serviu bem ao seu país.
Compartilho do seu compromisso em ouvir a voz do povo e estou muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, vindos do atual governo. Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política tarifária.
É minha sincera esperança que o Governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar oponentes políticos e acabe com seu ridículo regime de censura. Estarei observando de perto.”
Minhas amigas e meus amigos, Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto. O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional.
Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.
Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo.
Minhas amigas e meus amigos, a defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.
No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.
Minhas amigas e meus amigos,
Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores.
Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer.
Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo.
Minhas amigas e meus amigos,
A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares.
O Brasil hoje é referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030.
Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo.
Minhas amigas e meus amigos,
Quando tomamos posse na Presidência da República, em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.
Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.
Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender a nossa economia. Desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.
Minhas amigas e meus amigos,
Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro.
Muito obrigado.
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Por Aline Gouveia