A política dos Estados Unidos está passando por uma transformação que pode ter consequências profundas para o país e para o mundo. Os novos expoentes do cenário político norte-americano — com o presidente Donald Trump à frente — estão trilhando um caminho arriscado, marcado pela simpatia por movimentos da extrema-direita, como é o caso do magnata da tecnologia Elon Musk, e pelo desprezo por alianças construídas ao longo de décadas.
Essa guinada não apenas compromete o papel tradicional dos EUA como líder global, mas também ameaça o próprio equilíbrio geopolítico. A ruptura com aliados tradicionais pode gerar instabilidade, enfraquecer organismos multilaterais e abrir espaço para a ascensão de outras potências que buscam ocupar esse vácuo de liderança.
O mundo já estava perigoso. A invasão da Ucrânia pela Rússia teve impactos globais: sanções, crises energéticas e reconfiguração de alianças. O cessar-fogo em Gaza é instável, e as tensões entre Israel e grupos apoiados pelo Irã aumentam a instabilidade na região. A disputa entre os houthis no Iêmen e a coalizão liderada pela Arábia Saudita continua no Mar Vermelho. Prossegue a sangrenta guerra civil no Sudão.
Outras rivalidades ampliam o cenário de tensão. A ameaça de uma invasão chinesa a Taiwan desperta preocupação no Indo-Pacífico. China, Filipinas e Vietnã disputam ilhas estratégicas. Após o conflito de Nagorno-Karabakh, entre Armênia e Azerbaijão, a estabilidade do Cáucaso está sob ameaça.
Estados Unidos e China protagonizam uma corrida por chips, inteligência artificial (IA), influência econômica e controle de cadeias produtivas. A transição energética e as tensões no Oriente Médio impactam preços e mercados globais. A polarização política nos EUA reverbera na Europa e outros países, inclusive o Brasil.
Peru, Argentina e Venezuela ampliam a instabilidade na América do sul, com reflexos políticos e econômicos nos países vizinhos. A crise migratória mundial, cujo epicentro se deslocou para a fronteira do México com os Estados Unidos, pressiona governos e alimenta o crescimento da extrema-direita, sobretudo na Europa.
A partir da política externa disruptiva do presidente Trump, os Estados Unidos deixaram de ser o polo estabilizador da política mundial e da economia globalizada. Um mundo mais inseguro e dividido não é bom para ninguém. O momento exige sensatez e compromisso com princípios democráticos e diplomáticos que garantam a estabilidade global. O preço de ignorar essa realidade pode ser alto demais para todos.
O efeito reverso dessa política já se faz sentir. Em vez de fortalecer os interesses norte-americanos, essa postura pode tornar a vida dos próprios cidadãos mais difícil, criando insegurança econômica, diplomática e até mesmo militar. O isolamento e a polarização crescentes não favorecem o diálogo, nem a cooperação internacional — elementos essenciais para enfrentar desafios globais como as mudanças climáticas, o terrorismo e as crises econômicas.