Visão do Correio: Riqueza hídrica desperdiçada

As mudanças climáticas têm provocado uma série de consequências e alterado diversos padrões da sociedade e do meio ambiente. No Brasil, os rios — historicamente fontes de desenvolvimento e vida saudável — atravessam um momento preocupante, potencializado pelas modificações impostas pela interferência do homem na natureza. Secas severas e enchentes devastadoras ficam ainda mais nocivas aos mananciais quando somadas ao aumento da poluição, em outra ação direta da civilização atual. Uma questão urgente, que o país precisa debater amplamente.

A preservação dos rios é de extrema importância para o meio ambiente e relevante para o crescimento nacional. Cursos d’água que abrigam variados ecossistemas e servem de habitats diversos, eles são fundamentais para o equilíbrio ambiental. Também garantem a subsistência de comunidades, as atividades no meio rural e o funcionamento de toda a engrenagem das cidades de pequeno, médio e grande portes. Com isso, a degradação e o uso equivocado dos recursos dos corpos hídricos impedem melhorias sociais, ampliando desigualdades, e comprometem atividades financeiras.

Por incontáveis municípios brasileiros, a falta de infraestrutura de saneamento causa prejuízos constantes nas esferas da saúde e da economia. O descarte inadequado de lixo, problema que as administrações públicas não se empenham em resolver, provoca perdas e emperra ganhos, como os que ocorrem no setor de turismo. Outro vilão de destaque é o sistema de esgoto — que em inúmeras cidades se mistura às galerias de drenagem pluvial — ou, o que é pior, a ausência dele, com o derramamento dos dejetos nas águas. O tratamento inadequado é mais um ponto negativo.

Fato é que se os rios estão contaminados, a responsabilidade é humana, e essa crise alarmante precisa ser solucionada. O país tem de trabalhar de forma harmônica e conjunta para evitar novos estragos e recuperar o que já foi prejudicado. Aperfeiçoar a coleta e o tratamento de esgoto, acabando com as ligações clandestinas, e garantir saneamento básico para todos são medidas para dar o pontapé inicial nesse processo.

A despoluição de rios é um esforço custoso, porém rende benefícios fundamentais para a população. Ciclo de saneamento eficiente, rede de drenagem pluvial adequada e destinação correta de rejeitos e resíduos devem ser estabelecidos concomitantemente à aplicação de técnicas avançadas para limpar as águas.

A canalização e a construção de vias sobre os rios, da forma como vêm sendo feitas no país, também devem ser repensadas. Com os temporais cada vez mais intensos, resultantes das mudanças climáticas, os transbordamentos nessas situações têm virado rotina e fica claro que o modelo precisa de reavaliação e modernização.

Para reverter esse cenário, é necessário criar políticas públicas que estejam aliadas à participação da sociedade. Resgatar os rios nacionais é um desafio de todos e envolve investimento, conscientização e disposição para agir. A excelência das águas significa qualidade de vida e representa desenvolvimento. O Brasil tem de olhar para os seus rios — e para toda a sua diversidade hídrica — com um cuidado maior. Essa riqueza nacional não pode mais seguir sendo destruída e desperdiçada.

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