Rio terá grande biblioteca na região portuária, anuncia Eduardo Paes

No ano em que o Rio será a Capital Mundial do livro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anuncia o lançamento de um concurso internacional para a construção de uma grande biblioteca pública na região portuária do Rio, que vai ser um pouco biblioteca pública e arquivo geral do município.

– A gente quer criar mais um ícone na região do centro, criar mais um símbolo importante para aquela região.

O prefeito diz que, no próximo ano, vai provocar as escolas de samba que façam enredos sobre a literatura internacional e nacional. Ainda sobre o carnaval, Paes vê com bons olhos que a Sapucaí tenha mais um dia de desfiles e diz que o ideal é que o carnaval seja sustentável do ponto de vista financeiro.

Confira a entrevista:

Miriam: O presidente do seu partido, Gilberto Kassab, critica o governo, disse que o ministro Fernando Haddad é fraco e não faz as coisas andarem e que o presidente Lula vai perder a eleição em 2026. O que o senhor acha da opinião do presidente do seu partido?

Paes: Eu estou naquela fase da vida, que eu estou focado aqui na prefeitura. Então eu tô fugindo de…

Está fugindo da pergunta também.

É, também. Mas (fugindo de) interpretar um pouco essas coisas da política nacional. Porque, enfim, eu acho que estamos muito longe da eleição ainda. Eu tenho acompanhado a queda de popularidade do Lula. Mas eu acho que tem um sentimento de pânico geral. Tem um ano e meio até a eleição, para começar o processo eleitoral. Acho que a população não está ligada ainda em eleição, não está nem conectada que vai ter eleição em 2026. Acho que isso é um pouco do debate da política mesmo.

Não conversei com Kassab sobre o tema, provavelmente ele já tinha tido acesso a alguma pesquisa antes do grande público, para saber que estava havendo uma queda de popularidade por esse ou por aquele motivo. Te confesso que a minha relação com o presidente Lula é de muita objetividade, de muita ajuda ao Rio de Janeiro.

Acho que o presidente Lula é um dos poucos políticos nacionais que tem clareza do papel que o Rio pode cumprir para o Brasil, essa face internacional que o Rio tem. Ele ajuda muito o Rio. A escolha do Rio como a sede do Brics é uma decisão política. Fiz o G20 no Rio de Janeiro, vou fazer o Brics no Rio de Janeiro. Agora eu estou pleiteando a história de capital honorária.

É simbólico, mas é importante para um lugar que foi retirado como capital do Brasil sem nenhum tipo de compensação. E depois há a fusão feita pela ditadura militar, de uma maneira abrupta, sem nenhum tipo de olhar. Não estou querendo que a capital venha de Brasília, mas é uma espécie de reconhecimento simbólico que se dá muito mais nesse gestual.

Não tem nenhum efeito concreto, exceto a imagem?

Concreto não, mas ele tem um valor simbólico e que claro que pode abrir para outras oportunidades. Hoje o Lula é o presidente, amanhã vai ter outro presidente….

Queria voltar num ponto, sua opinião sobre o ministro Haddad. Você vê o ministro sem capacidade de realização?

Posso falar aqui pela minha realidade na cidade do Rio de Janeiro. O desemprego diminuiu, a economia cresceu, a arrecadação da prefeitura aumentou e voltamos a ter acesso a crédito. A prefeitura tem a lei de responsabilidade fiscal, que estabelece 120% de capacidade de endividamento sobre as receitas correntes líquidas. Nós estamos em 40%, é baixíssimo o endividamento do município. E até pouco tempo atrás a gente não conseguia contrair dívida. Agora eu busco financiamento, reformei todos os BRTs, estou fazendo o corredor do Anel Viário ali na Zona Oeste e Campo Grande, ou seja, eu tenho que olhar sobre essa perspectiva do município.

E eu também, vou meter aqui numa seara que não sou especialista, Mas eu vejo muito a fala do mercado, que o dólar subiu muito porque o Lula não fez o ajuste fiscal que o mercado desejava. O ajuste fiscal não veio e o dólar está caindo. Da minha realidade aqui de prefeito, o que eu tenho tido no ministro Haddad, é um grande parceiro.

O índice de desemprego chegou em determinado momento a 15%, 16%, e que baixou agora enormemente, voltamos a uma posição adequada, que o Rio sempre ocupou nas regiões metropolitanas brasileiras, sob a minha perspectiva Estamos avançando, a pobreza diminuiu. Não tenho aqui a capacidade de fazer uma análise no longo prazo. Isso é um voo de galinha ou não é um voo de galinha.

Vamos pensar no carnaval. O carnaval esse ano vai ser três dias de desfile do Grupo Especial. Não é demais? Não vai cansar a cidade?

Eu vou ficar cansado, certamente. Eu acho que a cidade celebra. Primeiro, o carnaval ficou comprovado esse ano, inclusive no caso da Sapucaí, que ele é um ciclo de mais de um mês. Primeiro tem os blocos oficiais que já estão há um mês na rua. Aí tem o tal do carnaval que não é oficial, que todo mundo sabe que tem, que a gente tem que ficar atrás dos blocos que se recusam a informar onde vão desfilar.

Depois os ensaios técnicos esse ano na Sapucaí, que foram um enorme sucesso:120 mil pessoas acompanhando as escolas de graça. Isso é uma super oportunidade. E tem uma modelagem interessante que a Liesa está propondo, que é olhar essa história mesmo do Business Carnaval. É uma manifestação cultural incrível, com tudo aquilo que a gente sabe que as escolas de samba transmitem na Sapucaí, mas isso representa uma atividade econômica importante para a cidade.

Então, três dias é mais turista, é mais tempo do turista gastando, é mais oportunidade de vender ingresso. O meu sonho, e acho que a Liesa começa a caminhar nessa direção, é o seguinte: o ideal é possível que o carnaval seja sustentável, só do ponto de vista financeiro. se tenha mais a necessidade do subsídio público para o carnaval.

Na hora que ganha os direitos de TV, na hora que vende, eles organizaram essa coisa de cervejas nos camarotes. Tudo é mais dinheiro para as escolas, que precisam de melhores condições e vão passar a depender menos dos patronos.

Podemos transformar essa atividade cultural e social tão importante que são as escolas de samba em uma atividade sustentável economicamente. Eu acho que é isso que a Liesa está buscando nesse momento. Eu acho que é uma bela iniciativa. Eu estou preocupado com a minha saúde física (risos).

Como é que você vai acompanhar?

Vou nos dois dias do grupo de acesso e depois são três dias de Especial. Antes eram dois dois dias para descansar, terça e quarta, agora só tem a quarta-feira de cinzas. Mas a gente vai com fé.

Esse ano vai ter muito evento, o que é a Capital Mundial do livro? O que vai significar isso na prática para quem mora aqui?

Primeiro, tem um aspecto cultural importante, temos que ampliar cada vez mais a cultura da leitura. O Rio é uma cidade marcada em todas as suas esquinas por nomes incríveis da literatura brasileira. Você tem aqui a sede da Academia Brasileira de Letras.

Dia 23 de abril, dia de São Jorge, é o dia que o Rio oficialmente vira a capital mundial do livro. Vamos fazer um grande lançamento, a Academia Brasileira de Letras está nos ajudando nisso. Estamos montando uma programação que está quase concluída, e vai ter muita coisa acontecendo pela cidade. Queremos criar bibliotecas nos BRTs. Vai ter uma estante, e pode-se fazer a troca gratuitamente. Muita parceria com a Biblioteca Nacional, com o Arquivo Nacional e com a Academia Brasileira de Letras.

Queremos provocar as escolas de samba do ano que vem. A gente nunca obriga, mas induz. Vamos tratar da literatura mundial, claro, puxando para a literatura brasileira. Então, um pouco esse esforço de trazer essa cultura e, claro, fortalecer na base. Nós temos quase 700 mil crianças nas nossas escolas.?

Temos uma novidade que eu não contei ainda: vamos lançar um concurso internacional para a construção de uma grande biblioteca pública na região portuária do Rio, que vai ser um pouco biblioteca pública e arquivo geral do município. E essa biblioteca é mais um ícone, a gente quer fazer na região do centro, criar mais um ícone, mais um símbolo importante para aquela região.

Durante a campanha falou-se muito de guarda municipal armada, que era a proposta do seu adversário, Alexandre Ramagem. E agora você tem defendido uma força policial armada. Eu queria entender isso. É outra força? É a atual guarda armada? É uma outra força? Como é que você pretende viabilizar isso?

Primeiro, esse tema passou a ser o tema prioritário da população brasileira e, no caso do Rio de Janeiro, muito mais.

Aliás, hoje a pesquisa da Quaest já aponta o Rio de Janeiro como 71% achando que a segurança é o grande problema do país.

Você tem vantagens de ser prefeito tetra, o que me dá muito orgulho. Na minha primeira eleição, o grande tema era a saúde. Na minha segunda eleição, o grande tema era saúde de novo. Na minha terceira eleição, o grande tema era transporte.

Já na eleição do ano passado, o grande tema era segurança. E os municípios sempre tiveram um papel muito tímido no campo da segurança pública. Então você tem uma série de fatores, e o principal, certamente, é a decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi consolidada recentemente, mas que ela já vinha sendo a vitória da possibilidade de municípios fazerem o patrulhamento ostensivo, preventivo, comunitário nas ruas da cidade.

E no caso do Rio, óbvio que vai ter que haver uma integração com as forças policiais do Estado, mas a falência da política de segurança pública do Estado faz com que esse tema seja mais premente ainda. Eu estou assumindo a presidência da Frente Nacional de Prefeitos por um motivo só. É claro que você tem que defender o municipalismo, o papel que as prefeituras têm a cumprir no Brasil, mas o tema da segurança é cada vez mais cobrado dos governos locais.

O modelo que a gente está tentando implementar aqui no Rio, eu vou dar um exemplo aqui. Ele não vai resolver o problema do Complexo de Israel, este tipo de combate, às organizações criminosas, milícias, narcotraficantes.

Vou dar um exemplo. Ontem viralizou na internet, um assalto, uma senhora de bicicleta no parque do Flamengo foi cercada com os bandidos tentando roubar a bicicleta dela. Esse é o típico caso que a Força Municipal pode ajudar.

Não vai enfrentar o problema da milícia, da ocupação territorial, das barreiras que fazem isso. Vai continuar sendo o papel da polícia militar, da polícia civil, que é a polícia investigativa, a polícia judiciária, que cumpre esse papel. Essa integração vai ser muito importante e imaginamos também poder liberar as forças policiais tradicionais, Polícia Militar, Polícia Civil, para o seu papel mais de combate ao crime organizado.

Mas você está falando da Guarda Municipal ou você está falando de uma outra força armada?

Na lei orgânica do município do Rio, está determinado que o município poderá criar guardas municipais a diferentes tempos. Nós temos uma guarda municipal que não foi treinada, não tem a cultura, seus concursos públicos não foram com a cultura dos armas. Não estou a fim de criar mais uma força que seja suscetível a virar milícia no Rio de Janeiro.

Por exemplo, criamos essa força municipal, permitirmos o ingresso de guardas municipais, vai ter um processo seletivo, ele chegando nessa força municipal, mantendo ele como servidor estatutário, ele vai ter um treinamento como se ele estivesse entrando nessa força municipal, como se fosse uma coisa nova pra ele. E ali ele vai ter condições diferentes.

São novos contratados para a mesma guarda.

Na verdade, a gente quer fazer uma espécie de concurso público com algumas premissas. Por exemplo, entendemos que tem muita gente que sai deste modelo de militarismo temporário, como CPOR, do exército, mas tem Marinha, aeronáutica. Tem um treinamento, em geral, passaram lá oito anos e que tem todas as condições, claro, com devido processo seletivo, de ser contratado pelo município.

Queremos criar um modelo de policiamento ostensivo, de policiamento comunitário, de policiamento preventivo, que parta da premissa de respeito aos direitos do cidadão, mas também que possa agir com a energia necessária para o combate a essa bandidagem que toma conta das ruas das cidades brasileiras.

Porque é sempre uma confusão. Ficamos sempre naquele negócio, ou é a sociologia excessiva, ou passar a mão na cabeça do delinquente, ou então eu tiro na cabecinha, como se o Estado fosse um assassino. O Estado não pode se comparar a um bandido, por isso o Estado tem o monopólio da força. O Estado pode até, se ameaçado, pode até vir a matar. Mas o papel principal do Estado é deter esse criminoso, prender e levar a julgamento.

O que a gente quer é uma guarda, que seja uma polícia, uma força municipal que seja firme e que possa proteger o cidadão. Agora, tem um desafio. Sabemos que os municípios têm aí atribuição na educação, na saúde, a pressão sobre os municípios é muito grande. Quando vem essa pressão da segurança pública, significa um custo. Vou dar um exemplo concreto. Até o meu mandato passado, eu não subsidiava passagem de ônibus no Rio de Janeiro. Eu criei o subsídio. Hoje, tem lá entubado no orçamento da prefeitura R$ 1,5 bi esse ano para pagar subsídio de ônibus. Na hora que você cria uma força municipal e começa a endereçar o problema da segurança pública, você está colocando mais um custo para os municípios.

Acontece com São Paulo, lá com o Ricardo (Nunes), acontece com João Campos do Recife, acontece com o Jota ali em Maceió. Precisamos discutir isso a nível nacional, porque os municípios cada vez mais estão sendo demandados para prestar serviços que seriam de outros níveis da federação pela proximidade dos prefeitos. E os recursos não são iguais para isso. Esse é o esforço que a gente vai fazer.

No Rio de Janeiro, já há algum tempo, a gente não tem clareza do que é uma política de segurança pública. Nós temos, hoje, nesse momento, três secretarias cuidando do tema. Uma decisão do Supremo, que eu já manifestei contrária, a ADPF…

Mas como proteger o alvo de sempre? O meu medo é criar mais uma força policial ou botar mais policiais na rua que vão atirar contra uma pessoa negra, como já acabou de acontecer agora na Penha com o Igor e o Tiago. O Igor é estudante, ele quer ser jornalista e está agora lutando pela vida num hospital. Sendo inocente, foi acusado. Como evitar a propagação desse problema que o Brasil tem, dessa tragédia que o Brasil tem, que é matar jovens negros.

Por isso, talvez esteja aí a explicação da gente não sair: “vamos armar toda a Guarda Municipal, pegar 7.500 homens que não foram treinados, nem fizeram concurso para andar armado, daqui a pouco vamos armar essa turma toda.”

Temos que entender que o Estado precisa agir, precisa ser duro, precisa ser firme no combate à violência, mas que isso tem que ser feito dentro da legalidade. Quando você olha para essa história da ADPF, eu conversei isso com vários ministros.

Você era a favor e ficou contra isso? A decisão do o ministro Edson Fachin

Não, sempre fui contra. Se você olhar a decisão do ministro Fachin, não diz nada demais ali. Manda cumprir a lei. Respeite a lei.

Agora, tem um problema na origem da narrativa. Porque, na minha opinião, não é papel do Supremo, e eu conversei isso com o ministro do Supremo, com todo o respeito, como é que o Supremo vai ficar controlando, dando um manual de procedimentos para polícia? Existem caminhos para esse controle da legalidade, não é papel do Supremo. E o pior dessa ADPF é que ela virou uma desculpa para não se fazer nada no Rio de Janeiro.

A incompetência da política de segurança pública do atual governo, ela é justificada pela ADPF, que é uma mentira. Eu vou dar um exemplo. As pessoas conhecem muito pouco o Rio de Janeiro. Dizem, a comunidade de Brás de Pina. Brás de Pina é um bairro, Parada de Lucas é um bairro. Cordovil é um bairro. Cidade Alta é um bairro. Todos com ruas e serviços públicos. Então não tem desculpa nenhuma, até porque a ADPF supostamente só incide sobre comunidade, para ter um sujeito lá que vira dono do chamado complexo de Israel. Sabe o que falta? Autoridade. Vergonha na cara. E quando falta autoridade, quando falta política clara, é que esses agentes da lei, que não são conduzidos da forma adequada, sem autoridade adequada, acabam cometendo esses absurdos.

Quando eu vejo você falando com esse ânimo todo sobre uma questão que é uma questão principalmente estadual, eu vejo aí um candidato a governador do Rio de Janeiro em 2026. É isso?

Olha só, eu não vou deixar de tratar dos temas da minha cidade Eu disse que eu não vou ser candidato a governador. Eu acho que é uma agonia do cidadão carioca E isso ficou muito claro na eleição de 2024. Covardemente, os meus adversários, que aliás estão governando o estado do Rio de Janeiro e implementando essa política de segurança há seis, sete anos, tentavam imputar a mim os problemas na segurança pública do Rio de Janeiro. Barreiras, barricadas, Complexo de Israel, esses absurdos que estão acontecendo no Rio de Janeiro.

E a gente fez esse debate de maneira muito franca, e óbvio, há a decisão do Supremo a possibilidade do prefeito passar a ter uma postura mais ativa nesse tema e ter os instrumentos para enfrentar.

Agora, de novo, a gente tem que dizer claramente para a população o que é que um prefeito vai poder fazer e o que é que um prefeito não vai poder fazer. Portanto, o Complexo de Israel é, para mim, o menor exemplo, porque ele ficou famoso. Tem tantas áreas da cidade piores.

Outro dia eu fui a Senador Camará, e na Estrada do Taquaral em cada extremidade tem uma cancela com pneus para queimar. Eu nunca vi coisa igual. E olha que eu ando pelas ruas do Rio de Janeiro desde que eu sou subprefeito, fui subprefeito do bairro Jacarepaguá, há exatos 33 anos. Nunca vi isso.Ando em Senador Camará há 30 anos. Nunca vi isso acontecendo. E não é uma comunidade.

A ADPF não incide ali. Portanto, o que eu tenho alertado os ministros do Supremo, é que é um tema errado. Deleguem isso para o controle da legalidade, a justiça do Rio de Janeiro, a polícia federal. Porque é impossível a partir de uma visão de Brasília, sem conhecer essa realidade, estabelecer esses procedimentos e respeitar a lei é a obrigação do Estado. Estamos sendo redundante e, de novo, dando narrativa para a incompetência de uma gestão política de segurança pública que não existe.

Há projetos imobiliários e arquitetônicos que estão incomodando muita gente, porque implicam em derrubada de árvores no Jardim de Alah e também no Alto Gávea. E eu quero que você me explique o seguinte, tem mesmo que derrubar árvores para fazer esse projeto arquitetônico, este projeto imobiliário? Ou não é para fazer projeto imobiliário da Gávea? Como é que você está vendo essas pressões que estão na cidade, estão nas placas, estão nas redes sociais?

Primeiro, toda essa avaliação de quando se autoriza uma derrubada de árvore, toda vez que se faz construir algo novo, em geral, aquele espaço é ocupado por algum tipo de vegetação. Quando a vegetação não é uma vegetação nativa, ela já estranha aquele ambiente, como é o caso do Jardim de Alah, você autoriza e você tem sempre a medida compensatória.

Em média, para cada árvore que você retira, você tem que plantar oito, nove, sei lá, um número mais ou menos assim. Então o projeto do Jardim de Alah é um projeto para melhorar aquele espaço, ele cria a partir de uma sustentabilidade econômica, acho que por isso que a gente conseguiu fazer aquilo ali em PPP, você permite tirar árvores que não são naturais daquela região. Você vai plantar novas árvores e eu tenho certeza que a natureza vai melhorar muito no jardim de Alah.

Nesse caso da Gávea eu não conheço o detalhe, mas volta e meia, outro dia a gente teve um empreendimento na Tijuca, numa área que estava lá verde. É óbvio que se eu moro num lugar, tem um terreno particular que não foi construído ainda, eu não quero que construa nada na frente, mas tem um direito a construir ali e a legislação prevê que você possa fazer isso, desde que você oferte o que a gente chama de medida compensatória.

Você está tirando a árvore, você vai plantar em outros lugares, vai ter uma medida compensatória, às vezes pagamento de algum recurso, de dinheiro, para que possa compensar aquilo. É um pouco dos conflitos da vida urbana. Eu acho que o Jardim de Alah é um desafio muito antigo, muito antigo do Rio de Janeiro. Ele fica ali numa região fantástica da cidade, entre os dois bairros mais valorizados do Rio de Janeiro, com a Lagoa de um lado e a praia do Leblon de Ipanema do outro. A gente nunca conseguiu dar uma utilização àquilo. O projeto fez uma concorrência pública, uma chamada pública. O projeto é um projeto muito suave, de muita qualidade. Não é fazer um shopping ali, as pessoas tentam passar ideia. O shopping já tem ali, o shopping Leblon. Você vai fazer um espaço de utilização daquele equipamento com mais qualidade.

Você acabou de voltar de Davos, parece que é um momento em que as questões ambientais estão em retrocesso, dado o governo americano ou todo o comportamento até de empresas. Lá em Davos, você sentiu que a questão climática e ambiental continua forte?

Não. Eu acho que não. Apesar de eu ter participado de uma mesa com o governador Helder que tratava da questão da COP em Belém. Eu presido ainda uma comissão com o Jeffrey Sachs e com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em que a gente busca cada vez mais como é que você financia cidades, governos locais para tratar das questões das mudanças climáticas. Porque quem é que vai salvar os Estados Unidos nesse novo governo Trump? Serão de novo os prefeitos, como aconteceu no passado. Então você vai ter uma mudança na leitura, na política do governo central americano, mas os governos locais, uma quantidade enorme de prefeitos, eu já fui presidente do C40, continuam endereçando esses temas. Como é que a gente eletrifica a frota de transporte das cidades, como é que se aumenta áreas verdes nas cidades, como é que você destina de maneira mais adequada os resíduos sólidos.

Venho defendendo isso há muito tempo, se fica menos dependente dessas pressões dos governos nacionais e centrais, mas eu acho que você tem toda a razão, o tema está muito menos chamando muito menos atenção do que no passado.

(Com Ana Carolina Diniz)

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