HSBC puxa a cauda de um touro ferido

Nos corredores do HSBC, é possível escutar uma voz roufenha, repetindo em forma de sussurros uma só palavra: – Santander… Santander… Santander…-. O banco de origem britânica tem acompanhado passo a passo com atenção obsessiva a errante trajetória dos espanhóis na América Latina. O HSBC enxerga o Santander como uma oportunidade de ouro para, enfim, montar uma grande operação de varejo no Brasil.

Sua posição no país alcançaria outro patamar com a aquisição dos ativos do banco espanhol. Representaria também o cumprimento de uma promessa que jamais se materializou na proporção esperada. Quando comprou o Bamerindus, em 1997, o HSBC desembarcou no Brasil disposto a lutar pelo varejo bancário com todas as suas armas. No meio do caminho, no entanto, os ventos mudaram de direção. Hoje, a instituição está muito mais para um banco de atacado ou uma gestora de fortunas do que um player do varejo tradicional, não obstante ter mais de 5,4 milhões de clientes pessoas físicas e quase 900 agências em todo o país.
Esta inflexão estratégica do HSBC, que o distanciou de seu propósito inicial, teve como principal artífice Michael Geoghegan, que comandou o banco no país entre 1997 e 2003. Mais recentemente, quando ocupou o cargo de CEO global do grupo, o executivo transferiu do México para o Brasil a sede das operações latino-americanas. Ainda assim, curiosamente, manteve o mercado brasileiro como uma bela adormecida, dando continuação à visão que tinha no cargo anterior. Este estado de hibernação é página virada. A disposição do HSBC de finalmente se firmar como um banco de varejo no país deve ser creditada na conta do atual CEO mundial, Stuart Gulliver, para quem o Brasil não é uma Lilliput. Hoje, a subsidiária é o terceiro maior lucro global do grupo. Não por acaso, até segunda ordem, será poupada do corte de 30 mil empregos que os britânicos farão até 2013.
Como bom predador, o HSBC fareja o momento de fragilidade de sua presa. Duramente afetado pela crise europeia, e, mais precisamente, pelo sangramento da economia espanhola, o Santander tem sido obrigado a vender ativos na América Latina para reforçar sua posição doméstica – entre outros problemas, o banco está abarrotado de títulos públicos. Anteontem mesmo, o chileno Corpbanca fechou a compra de 95% do Santander Colômbia. Automaticamente, os espanhóis caíram numa armadilha inevitável. Suas operações latino-americanas entraram em um processo natural de depreciação.
O HSBC, por sua vez, encontra- se em uma situação diferente. Blindado pelo Canal da Mancha, o banco não está tão próximo do olho do furacão que varre a economia na Zona do Euro. Outro fator positivo é a sua forte posição no mercado asiático. Com a compra dos ativos do Santander, a instituição daria um salto triplo no Brasil. Passaria de R$ 116 bilhões para quase R$ 500 bilhões em ativos totais. O volume de depósitos pularia de R$ 9 bilhões para mais de R$ 22 bilhões. Em termos de capilaridade, o HSBC quadruplicaria sua presença no país. Ao incorporar as agências do Santander, chegará a aproximadamente 3,4 mil pontos de atendimento, contra cerca de 900 atualmente. Ou seja: o HSBC não vai virar um Bradesco ou Itaú, mas, ao menos, vai correr em um páreo no qual vinha fazendo um certo forfait.

Fonte: Relatório Reservado

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