Santander vai a Dilma e diz ao povo que fica

O Santander está tendo que convencer a gregos, troianos, vascaínos, corinthianos, existencialistas, materialistas e até a própria presidente Dilma Rousseff de que sua permanência no Brasil são favas contadas. O Palácio do Planalto foi palco ontem de uma demonstração, ainda que tácita, de que os espanhóis consideram absolutamente estratégica a reversão das expectativas quanto ao seu futuro no país. Por trás do discurso protocolar e dos anúncios de boa vizinhança e de laços eternos entre Brasil e Espanha que marcaram o encontro com Dilma, o nº 1 mundial do Santander, Emílio Botín, tentou sensibilizar a presidente para que não acredite no ribombar do mercado. Assim é se lhe parece. Dilma tem suas próprias informações provindas da autoridade monetária. Segundo uma fonte do Banco Central, a instituição olha de soslaio para o Santander com uma preocupação velada de que os problemas que ocorrem na economia espanhola e, por extensão, com o próprio grupo acabem por corrente de transmissão afetando o bom momento do Brasil. Enquanto Emílio Botín falava com Dilma, as ações do Santander na BM&F Bovespa recuaram mais de 7%, a segunda maior queda do pregão.

Há coisas que Emílio Botín não disse e nem precisava dizer porque Dilma Rousseff já sabia. Por exemplo: a decisão de venda de uma fatia entre 5% e 8% do capital do Santander Brasil e a disposição de se desfazer de parte do Santander Chile não se coadunam com o discurso de perenização no país. Ninguém, entretanto, está dizendo que o banco vai deixar a nossa praia. O Santander pagou mais caro do que todos os demais estrangeiros pelo seu ativo brasileiro. Por isso mesmo, no mínimo, deveria rever sua arrogância no tratamento com os stake­holders tupiniquins. O descaso dos ibéricos com os princípios mais elementares do bom relacionamento e das práticas sociais mais corretas já é folclore no mercado. O ex-presidente do ABN, Fabio Barbosa, por ocasião da compra do banco pelos espanhóis, migrou de casa e de presidência. Como titular do Santander no país, tentou arrumar esse comportamento cáustico que sempre imperou no grupo. Mas o touro miúra abateu as boas intenções do toureiro. A penca de espanhóis aboletada no Santander foi dizimando, inclusive, o projeto de Fabio Barbosa de clonar o programa de sustentabilidade do ABN. O banco vai ter de melhorar muito sua comunicação se quiser fazer do limão uma limonada.

A flagelação da banca estrangeira, notadamente europeia, expõe uma intrigante contradição histórica. Os bancos lá de fora vieram para o Brasil quase que todos convidados pelo governo, que via no ingresso do capital externo uma solução para o crônico problema do balanço de pagamentos. Ironia do destino: hoje em dia, os sinais estão trocados. O outrora efervescente jet set bancário internacional atualmente chega como uma virose potencial na conta corrente brasileira. Ou seja: com uma perspectiva muito maior de remessa de capital hiperbolizada pela necessidade de reforço no patrimônio da matriz do que de atração de novos recursos. O Santander é mais um exemplo dessa mudança de mão. Emílio Botín vai ter de trabalhar muito para reverter a percepção do mercado. Em última instância, contudo, não faltará banco brasileiro que queira comprá-lo.

Fonte: www.relatorioreservado.com.br

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