‘Estamos trazendo a inflação para a meta com grande sucesso’, diz Campos Neto

Inflação de 3,5%, portanto dentro da meta, e um Produto Interno Bruto revisado positivamente de 1,7% para 1,9% estão entre as projeções para a economia brasileira em 2024, segundo Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central nesta quinta-feira.

A expectativa é que, a despeito da redução da contribuição do setor externo e do consumo comedido das famílias, haverá retomada de investimentos.

O documento, que apresenta as diretrizes das políticas adotadas e projeções do cenário nacional e global para balizar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), mostrou que a inflação esperada para 2024 fica acima do centro da meta, de 3%, mas ainda dentro da banda de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Para o ano que vem, as projeções ficaram estáveis em 3,2%. Já as projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025.

‘BC tem tido sucesso’

Sem citar nomes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária tem obtido êxito na conversão para a meta de inflação, que é definida pelo Conselho Monetário Nacional.

–Essa missão está sendo estabelecida com grande sucesso. Inflação alta é uma coisa que gera um desequilíbrio muito grande de renda e afeta muito mais a camada da população mais carente. É importante que sempre tenha isso no visor.

O presidente do BC foi novamente alvo de críticas por parte do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). No último dia 11 de março, Lula afirmou que “não havia explicação” para a taxa de juros estar (à época) em 11,25%, a não ser “a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa”. A fala foi dada em entrevista ao SBT.

Cenário de desinflação

O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse que a velocidade do processo desinflacionário é compatível com uma conversão ao estágio de tolerância do índice em diversos países:

– As principais economias estão passando por desinflação, como política monetária restritiva, normalização das cadeias produtivas e comportamento dos preços de commodities.

O relatório apontou ainda que entre os riscos de alta estão a maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços.

Entre os riscos de baixa, a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada pode pesar, além dos impactos do aperto monetário nas economias se mostrarem mais fortes do que o esperado.

No curto prazo, a projeção para o IPCA ficou em 0,24% em março (ante 0,39%, em relatório anterior), 0,35% em abril, 0,27% em maio e 0,15% em junho. Devem contribuir para a variação menor no período o comportamento do preço do arroz e do feijão (que tiveram altas acentuadas até fevereiro), bens industriais e serviços.

De outro lado, leite e remédios são itens que devem contribuir para a alta no índice nos meses seguintes.

Projeção para o PIB cresce

A projeção para o PIB de 2024 foi revisada de 1,7% no relatório de dezembro para 1,9% agora.

O documento indica que haverá retomada dos investimentos, apesar da moderação do consumo das famílias e menor contribuição do setor externo. “O mercado de trabalho tem mostrado dinamismo, destacando-se a retomada da queda da taxa de desocupação e o crescimento mais forte dos salários”.

Já o setor agropecuário, que registrou a maior alta da série histórica em 2023 (de 15,1%), deve registrar variação negativa de 1%. A projeção anterior esperava que o setor crescesse 1%, mas a queda no ano deve refletir o recuo da produção agrícola em decorrência da irregularidade das chuvas e temperaturas elevadas no país.

A perspectiva do relatório é que a indústria tenha um crescimento de 2,2%. A previsão de dezembro era que o setor tivesse um salto de 1,7%. O estudo destaca a situação de normalidade dos estoques e melhora da confiança dos empresários no favorecimento da expansão.

Apesar da estabilidade no consumo das famílias, a a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e o consumo do governo devem voltar a crescer. Relatório aponta crescimento de 1,5% e 1,9% de aumento, respectivamente.

Falta de dados afetou Copom, diz Neto

Na coletiva, Campos Neto, disse que a comunicação da ata da última reunião Copom – que definiu a queda da Selic em meio ponto, para 10,75% – demonstrou que a autoridade monetária precisa de mais detalhes do cenário econômico para tomar futuras decisões.

– Como a gente não tem uma visibilidade tão clara, tiramos o forward guidance. Mas precisamos de dados até lá. As coisas podem mudar, mas temos mais incertezas no horizonte, não temos visibilidade.

Dados de inflação de serviços e alimentos, que são impactados pelo ganho de massa real da população, foram índices que o presidente do BC demonstrou que terá atenção pela dúvida no comportamento.

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